Fiéis precisam manifestar dons para serem escolhidos pastores, afirma pesquisa alagoana

Culto acompanhado pelo pesquisador alagoanoSociológo evangélico analisou a dinâmica dos cultos e as relações de poder entre os membros da AD em Alagoas
Matéria divulgada pela Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Alagoas (Ascom-Ufal) mostra resultados de um trabalho científico sobre pastores assembleianos em Alagoas. Trata-se de uma dissertação de mestrado em Sociologia de James Washington, membro da Assembleia de Deus no Cleto Marques Luz, em Maceió. Abaixo segue texto na íntegra:

De um lado, os fiéis que buscam na igreja um encontro com Deus. Do outro, a figura do pastor utilizada como mediador desse encontro. A relação de confiança e respeito a quem dirige um culto evangélico muito tem a ver com a credibilidade transmitida por seu dirigente, com o dom dado a ele mesmo de ser instrumento da manifestação divina. As minúcias desses aspectos foram analisadas por James Washington, na dissertação de mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas.

Durante dois anos, James visitou dezenas de templos no intuito de estudar a vocação pastoral nas Assembleias de Deus em Alagoas. De acordo com o pesquisador, alguns critérios foram observados, como a lógica do recrutamento dos pastores, as influências culturais exercidas no comportamento deles e as relações hierárquicas dentro da igreja.

Para entender essa tríplice, James começou pesquisando sobre a tradição pentecostal, um movimento de renovação, um avivamento, a manifestação dos dons do espírito. “Os ‘assembleianos’ acreditam que cada pessoa é capaz, aceitando a Cristo como seu salvador, de ter dons espirituais, mas as lideranças serão chamadas pelos dons que se manifestam com mais evidência, como, por exemplo, o de cura, o de profecia, o de falar em línguas e se fazer entender, além do desejo por compor o ministério”, explicou.

Nos mais de duzentos cultos que assistiu durante a pesquisa, realizada em Maceió e outras cidades do interior do Estado, James Washington observou como a cultura patriarcal influenciou para a formação de costumes mais rígidos na Assembleia de Deus, considerada a mais rigorosa entre as igrejas evangélicas. “O fato de a mulher usar saia, ter cabelo comprido, não se maquiar, nem ocupar cargos ministeriais dentro da Igreja, por exemplo, mostra a forte subserviência que predomina na Assembleia de Deus no Nordeste. Em Alagoas isso é bem definido, mas hoje em dia as coisas tendem a mudar, com a flexibilidade das regras”, comentou.

Preparação

A ideia de que os pastores são escolhidos por sua intelectualidade é, de alguma forma, equivocada, com base no trabalho realizado por James Washington. Ele constatou que a Assembleia de Deus é uma Igreja, que, a princípio, se revelou anti-intelectual, ou seja, o fundamental não era formar pastores sábios, e sim, pastores que conheçam e obedeçam a Bíblia, que sejam comprometidos com o regimento da Palavra de Deus.

Por outro lado, o que define a escolha dos líderes está relacionado diretamente com o trabalho exercido na Instituição. Depois da conversão individual, o primeiro passo é a candidatura para a carreira sacerdotal, onde os homens passarão a ser observados nas manifestações dos dons e na sua conduta como fiéis dentro e fora do templo. “Os candidatos são entrevistados sobre a vida pessoal, além das interlocuções com as suas famílias. O depoimento dos amigos, da esposa e dos filhos é fundamental para a escolha do futuro pastor, porque é preciso saber se ele segue os mesmos princípios na igreja e no convívio do lado de fora”, enfatizou James.

Todo esse período de preparação foi analisado na pesquisa para entender as práticas e as estratégias de como os candidatos agem durante a exposição dos dons e na colaboração com os serviços entre os cargos de auxiliares, diáconos, presbíteros, evangelistas e pastores já formados. “Não vou dizer que não existe certo exagero ou, algumas vezes, até uma teatralização da manifestação dos dons com o intuito de chamar mais atenção. Também não nego que pode haver influência ou parcialidade nas relações de poder entre os membros para escolher um novo pastor, mas, segundo o que constatei na pesquisa, a definição leva a uma poderosa demonstração de fé: é uma revelação divina com base em elementos espirituais, comportamentais e morais”, concluiu o pesquisador.


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