O presidente Hugo Chávez morreu nesta terça-feira, em
Caracas, aos 58 anos, vítima de complicações de um câncer na região pélvica. O
anúncio foi feito pelo vice-presidente Nicolás Maduro, em pronunciamento na TV
venezuelana. "É um momento de profunda dor", disse.
O venezuelano ocupava o cargo desde 1999 e era o líder
democrático mais longevo da história recente da América Latina, tendo sido
reeleito para o quarto mandato consecutivo no último mês de outubro. O período
terminaria em 2019.Conforme anúncio do vice e herdeiro político de Chávez,
Nicolás Maduro, o presidente morreu às 16h25 desta terça. Ele estava internado
no Hospital Militar de Caracas, na frente do qual centenas de pessoas se
reuniam para fazer vigília, desde a manhã.
Logo após o anúncio, líderes venezuelanos também
começaram a se dirigir ao hospital, e a bandeira do prédio foi colocada a meio
mastro.O vice emendou a confirmação no anúncio de que mobilizava as Forças
Armadas do país "para garantir a paz". Na sequência, os chefes das
Forças Armadas da Venezuela apareceram ao vivo na TV estatal para prometer sua
lealdade ao vice-presidente Nicolás Maduro após a morte do presidente. Mais
cedo, Maduro deu uma entrevista à mídia na qual acusou "inimigos
históricos" do país, em uma insinuação de que seriam EUA e a oposição
direitista, de planejar sabotar a democracia venezuelana.
HISTÓRICO
Em 2009, o presidente promoveu um referendo sobre o fim
da limitação ao número de mandatos políticos, e chegou a falar sobre se manter
no governo até 2021, ou mesmo 2030. Em 2012, ele foi eleito pela terceira vez
para um mandato com duração de seis anos, regra criada pela nova Constituição,
aprovada em 1999, um ano após a chegada ao poder. Na última votação, o
venezuelano teve 55% dos votos, com comparecimento de 81% do eleitorado. Ele
venceu em 22 dos 24 Estados.
Sob Chávez, a Venezuela teve uma redução da pobreza de
49,4% para 27,8%. A redução da desigualdade foi maior que a dos anos Lula no
Brasil. Mas o mandatário também sofreu críticas por má gestão e pela violência.Um
dos maiores trunfos de Chávez na última eleição era o programa "Gran
Misión Vivienda", uma espécie de versão custo zero (sem financiamentos) do
programa brasileiro Minha Casa, Minha Vida que conta com, segundo números do
governo da Venezuela, 272 mil beneficiários.
O programa gerou imensa esperança --mais de um terço do
eleitorado diz estar na fila para receber a casa.Chávez concorreu contra
Henrique Capriles, 40, o ex-governador do populoso Estado de Miranda que
representava uma mudança geracional no antichavismo e comandava as maiores
reuniões populares opositoras desde 2004 com discurso centrista e de críticas à
gestão do governo.
VIDA
Chávez era o segundo de oito irmãos e sonhou ser
jogador profissional de beisebol antes de tornar-se cadete nas Forças Armadas.
Em 1992, liderou colegas numa tentativa fracassada de golpe militar. Passou
dois anos preso, antes de ser perdoado e libertado.
Segundo filho de professores de ensino básico, Chávez,
se nascesse menina ganharia o nome de Eva, para complementar o nome de seu
irmão, Adán. Em lugar disso, recebeu o nome de seu pai. Com a chegada de mais
filhos (seis, todos meninos), os dois mais velhos foram morar com a avó, Rosa,
uma mulher gentil e trabalhadora que os mimava muito.Por volta dos anos 60, a
Venezuela, antes um canto sonolento da América do Sul, governada por sucessivos
ditadores, havia se tornado uma democracia incipiente, com crescentes receitas
petroleiras e fome de modernidade.
Uma nova elite e classe média cresciam entre os
arranha-céus em construção, mas a maioria dos migrantes rurais terminava
vivendo em barracos construídos nos morros em torno das grandes cidades.Ele
tornou-se cadete nas Forças Armadas na expectativa de saltar da academia
militar para os clubes profissionais de beisebol de Caracas. Mas, em lugar
disso, se apaixonou pela vida militar.Enquanto Chávez subia na hierarquia,
estudava os escritos de Simón Bolívar, o libertador que expulsou os espanhóis
da Venezuela no século 19, e os de filósofos como Nietzsche e Plekhanov.
Também começou a prestar atenção à extrema pobreza e
desigualdade no país, em meio ao "boom" petroleiro. Inspirado pelos
líderes militares revolucionários do Panamá e Peru e por intelectuais de
esquerda venezuelanos, Chávez começou a desenvolver a ideia da revolta.
Ao longo de uma década, ele organizou os colegas
militares em uma conspiração para substituir o que viam como falsa e venal
democracia por uma democracia progressista e real. O golpe de fevereiro de 1992
foi um fiasco militar, permitindo que o impopular governo sobrevivesse, mas
Chávez transformou seu discurso de rendição, televisado em rede nacional, em
triunfo político.
Eloquente e elegante em sua boina vermelha, ele se
apresentou a um país atônito --"ouçam ao comandante Chávez"-- e
declarou que seus objetivos não haviam sido realizados "por ahora". A
piada que se ouvia então dizia que ele merecia 30 anos de prisão --um pelo
golpe, 29 pelo insucesso.Perdoado e libertado depois de dois anos, foi adotado
como líder nominal por uma coalizão de movimentos de base e partidos de
esquerda que conquistou a vitória na eleição de 1998, com apoio não apenas dos
pobres mas de classe média saturada dos partidos políticos tradicionais. Com o
petróleo cotado a apenas US$ 8 por barril, o Estado petroleiro estava quase
falido.
Pouca gente fora da Venezuela, até então conhecida
apenas por misses e pelo petróleo, sabia como avaliar a chegada ao poder de um
líder temperamental que elogiava Fidel Castro mas dizia não ser nem de direita
nem de esquerda, mas sim adepto de uma "terceira via" à moda do
britânico Tony Blair. Em poucos anos, Chávez se tornou uma das figuras mais
reconhecíveis, e polarizadoras, do planeta.
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