País tem entre 800 mil e 1 milhão de crianças
órfãs, sem um ou os dois pais.
De acordo com agentes humanitários, o número é uma
estimativa conservadora que não corresponde às milhares de crianças crescendo à
sombra da violência no país.
Saif, de 12 anos, perdeu o pai e a mãe em um ataque
a bomba – no qual ele também ficou ferido – na província de Diyala, em
2005."Eu não lembro o que aconteceu", ele diz, em voz baixa. "Eu
era pequeno. Um homem chegou e me levou para outro lugar, e depois me disse o
que tinha acontecido com meus pais. Não há vida quando você perde seu pai e sua
mãe", conta o menino.
Saif está sendo criado em um orfanato particular
onde, apesar do trauma que enfrenta, joga videogame e canta, além de sonhar em
se tornar um ator quando crescer.A verdade é que ninguém sabe ao certo o número
exato de crianças iraquianas que, como Saif, foram deixadas órfãs graças à
violência no país.
Crise social
Embora os Estados Unidos tenham retirado suas
tropas de combate do país, encerrando oficialmente o confronto, as explosões de
bombas e assassinatos ainda são uma ocorrência diária, fazendo com que o número
de órfãos continue crescendo.
Além das tragédias individuais, o total de crianças
órfãs tem criado uma grande crise em um país que tem menos de 200 assistentes
sociais e psiquiatras juntos para uma população de 30 milhões. E não há leis de
proteção à criança no Iraque.Autoridades do setor dizem que as disputas
sectárias no Parlamento deixaram a criação de leis relacionadas ao bem-estar
social em segundo plano.
O orfanato no centro de Bagdá onde Saif vive foi
criado pelo iraquiano Hisham Hassan e tem sido financiado por doações
particulares. Hassan disse à BBC que não podia mais aguentar o sofrimento de
uma geração inteira."O governo ainda não entendeu o tamanho do
problema", diz.
Aulas no orfanato
Entre os 32 garotos que vivem no orfanato estão
Mustafa e Mortada, de dez e 11 anos, respectivamente. Eles perderam a mãe em um
tiroteio e o pai desapareceu durante o auge da guerra sectária. Os dois se
recordam de uma "mãe muito boa" e um pai que costumava jogar futebol
com eles.
O orfanato se esforça para criar um ambiente
agradável que diminua o sofrimento dos garotos, com salas de computação e
artes. Eles aprendem diversas habilidades, entre elas costurar até cortar
cabelo."Se não cuidarmos bem deles, eles vão crescer e ser explorados por
terroristas. Serão como bombas –uma ameaça à segurança e ao futuro do
país", diz Hassan.
Abandono
No outro lado da cidade, em um orfanato dirigido
pelo governo para adolescentes entre 12 e 18 anos, o garoto Mustafa, de 17
anos, teme pelo seu futuro."Eu preciso que alguém me dê cuidados
psicológicos. Talvez nós estaremos envolvidos em crimes, porque não há nada bom
no nosso futuro", conta. Ele foi trazido ao orfanato de Dar al-Waziriya
após perder seu pai e sua mãe em um atentado a bomba quando tinha 12 anos.
"Me sinto como um pássaro enjaulado aqui. Gostaria que alguém pudesse nos
ouvir", diz.
Abrigando 52 garotos, o orfanato é um local
dilapidado e abandonado.Dara Yara, vice-ministro de Questões Sociais iraquiano,
disse à BBC que ele e sua equipe estão fazendo o melhor possível, mesmo em
circunstâncias políticas muito difíceis."Nós estamos trabalhando dia e
noite para melhorar os serviços que prestamos aos órfãos. Mas as verbas que eu
tenho para isto são muito limitadas. E o sistema de bem-estar social como um
todo precisa ser reformado", diz.
"Trata-se de um assunto humanitário, que não
está sendo priorizado pelo Parlamento. Nós precisamos de leis e nós precisamos
de verbas do Ministério das Finanças para lidar com o problema",
acrescenta o ministro, que também se preocupa com aspectos de
segurança."Eles são alvos muito fáceis para recrutamento de
terroristas".
Fonte: AD
ALAGOAS
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